Areia Branca

talvez em 1973

 

No tempo em que passávamos as férias de verão em família, no parque de campismo da Areia Branca, teria eu entre os sete e os nove anos de idade.  Para mim e para a minha irmã tudo aquilo era divertido e assumia contornos de aventura. Começava pela excitação do dia da partida, que ocorria normalmente no início do mês de agosto. A logística era complicada e envolvia empacotar e transportar uma infinidade de coisas indispensáveis à boa prática do campismo junto à praia. Eu ajudava o meu pai no empacotamento, pondo o dedo indicador a fixar o primeiro laço da corda e retirando-o no último instante do segundo laço, que haveria de cegar o nó e consolidar o volume atado. A minha mãe e a minha irmã recolhiam tudo o que havia para levar e davam baixa numa lista previamente preparada. A carga incluía todas as lonas de uma grande tenda, respetivos ferros articulados da estrutura, espias, estacas, colchões de espuma, bomba de ar, sacos-cama, cobertores e fogareiro. E ainda raquetes de badminton, bolas, boias, barbatanas e colchões insufláveis, para não falar de baldes e pás de brincar na areia, aviõezinhos e papagaios. Os mantimentos para os primeiros dias, numa geleira, a roupa de vestir, fatos de banho e toalhas de praia, também não podiam faltar. Depois de tudo acondicionado e embalado, os volumes juntos ocupavam um espaço enorme, que preenchia por completo o patamar do rés-do-chão do prédio onde vivíamos. Ao olhar para toda a carga junta, parecia impossível que um carro normal pudesse transportar tal quantidade de volumes de uma só vez. Era então que chegava o taxista “do costume”, devidamente munido de paciência de chinês e de barras de tejadilho. Os maiores volumes eram postos por cima do carro e a restante carga era acondicionada na mala traseira, como se de um puzzle se tratasse, tudo feito e controlado pelo motorista. Um só volume que não entrasse na mala em posição e ordem corretas poderia comprometer o sucesso da tarefa. Ainda assim, no final, quase sempre, a bagageira não fechava e era preciso amarrar a tampa com um esticador. Tudo pronto! E lá seguia o Mercedes com os cinco ocupantes e toda a carga, ajoujado e lento até ao destino.

À chegada, e depois de cumpridas as formalidades na receção do parque, já no meio dos pinheiros, com cheiro a maresia e ao som do ribombar do mar, começava a montagem da tenda no quinhão de terra que tínhamos alugado por um mês. Mais uma vez, nós, crianças, ajudávamos como podíamos, entusiasmadas. Encaixávamos ferros da estrutura, desdobrávamos lonas, esticávamos espias e cravávamos estacas com um maço de borracha rígida. No final não podia haver espias bambas, ferros desaprumados, lonas mal esticadas nem estacas mal cravadas. Era esse o truque para a tenda resistir à intempérie, que não raras vezes ocorria, mesmo em pleno estio do Oeste marítimo. A tenda tinha dois quartos e uma grande sala com toldo rebatível, que servia também de porta quando se baixava. Era feita de lonas cor de laranja e azuis.

O nosso dia a dia de férias começava, então, alegremente vagaroso e rotineiro, a partir daquele momento. De manhã, o céu cinzento, muitas vezes com nuvens baixas, não nos deixava ir à praia. Então, no parque, jogávamos Badminton, à bola, ou ao “mata” com um ringue de borracha, e brincávamos às escondidas entre os pinheiros. De tarde, altura em que normalmente as nuvens se dissipavam, íamos então à praia. Quando a bandeira estava amarela tomávamos banhos de mar rápidos, mas intensos. Aprendíamos a lutar com as ondas, sempre muito maiores do que nós, furando-as no sítio certo, mesmo a meio da curva pré-rebentação, para evitar que a fúria da vaga nos enrolasse na areia. Era a vitória da inteligência ardilosa contra a força bruta.

No areal tínhamos grupos de crianças com quem brincávamos. Eu juntava-me frequentemente a um bando de miúdos adeptos das corridas de caricas. Eram corridas que simulavam competições de ciclismo internacionais, representando cada cápsula um atleta. A Volta à França (o “Tour”) era a competição inspiradora. Preparava-se previamente o circuito, construindo na areia molhada uma estrada larga com curvas sinuosas, subidas e descidas, pontes e passagens subterrâneas. Cada criança jogava com meia dúzia de caricas, que constituíam a sua equipa concorrente. Em cada carica era colado com fita-cola um pequeno papel com o nome do ciclista representado. A partir da meta, à vez, cada um de nós lançava todos os seus “ciclistas” com a força de impulso do dedo médio engatilhado pelo polegar. Repetíamos a jogada depois de todos lançarem os seus concorrentes. Chegavam a estar na “estrada” mais de 50 caricas. O “ciclista” vencedor absoluto era naturalmente a primeira carica a chegar à meta. Para apurar a equipa vencedora havia um esquema de soma de pontos, de que não me recordo, pontos esses que eram função do lugar em que chegavam as diversas caricas.  Os ciclistas mais disputados para dar nome às cápsulas, uma vez que não se podiam repetir, eram sem dúvida Eddy Merckx e Joaquim Agostinho.

Eddy Merckx, de nacionalidade belga, era o ciclista do momento, já com diversas vitórias em circuitos internacionais. Em escassos anos viria a tornar-se o ciclista mais famoso e importante de todos os tempos, estatuto que ainda hoje mantém. Joaquim Agostinho era o ciclista português mais importante e famoso naquela época. Nascido numa povoação rural de Torres Vedras (Brejenjas) em 1943, apenas começou a treinar ciclismo de competição aos 25 anos de idade. Talvez por essa razão fosse um ciclista de baixa qualidade técnica, facto que o levou a protagonizar diversas quedas aparatosas ao longo da sua carreira, que lhe valeram a alcunha de “Quim Cambalhotas”. Mas nem essas limitações o impediram de ganhar três voltas a Portugal, em anos consecutivos, fazer um segundo lugar na volta a Espanha e dois terceiros lugares, também consecutivos, na volta a França, entre muitas outras vitórias e lugares honrosos que conquistou. Nascido no seio de uma família sem recursos, numa zona pobre e rural, combateu na guerra colonial entre 1961 e 1964, facto que o marcou profundamente. Mais tarde, já ciclista consagrado, viria a revelar numa entrevista que quando se lembrava da guerra não podia deixar de se rir dos seus colegas que diziam que subir o Mont Ventoux era muito duro. Quatro anos após o regresso de Moçambique iniciou, então, em 1968 e já com 25 anos de idade, a prática do ciclismo, tomando contacto pela primeira vez na vida com uma bicicleta de corrida. Em menos de um ano estava na alta roda do ciclismo mundial em competição com os melhores, incluindo Eddy Merckx.

Em abril de 1984 eu frequentava o segundo ano da faculdade e ainda tinha em mim todas as esperanças da vida. Nessa época morava na Rua de Artilharia 1, em Lisboa, num prédio antigo de quatro andares, que tinha na base um pequeno snack-bar com meia dúzia de lugares de balcão e decoração modernista, de seu nome “Tigusto”, onde eu tomava café com alguma frequência, depois de jantar numa qualquer cantina universitária. Era dos poucos momentos da semana em que eu via, muito de relance, as notícias na televisão, uma vez que era mais comum a minha atenção desviar-se para o trânsito noturno do final de dia, com as suas múltiplas cores e ruídos de ansiedade. Joaquim Agostinho, então com 41 anos, estava no final da sua carreira de ciclista e corria a décima volta ao Algarve em bicicleta. No final da quinta etapa, a escassos metros da meta, um cão corpulento atravessou-se-lhe no caminho, provocando-lhe uma violenta queda. Em sofrimento, e amparado por dois colegas, voltou a montar-se na bicicleta e terminou a corrida. Recusou tratamento durante várias horas, alegando que só precisava de repouso. Com o passar do tempo os sintomas agravaram-se drasticamente e Agostinho foi levado ao Hospital de Loulé. Por indisponibilidade da máquina de radiografias teve de ser transferido para o Hospital de Faro, onde lhe foi diagnosticado traumatismo craniano grave. Em 1984 não havia nenhuma valência hospitalar de neurocirurgia no Algarve e Portugal não dispunha de nenhum tipo de transporte aéreo dedicado a emergências médicas. Decidiu-se então pela transferência de ambulância para Lisboa, onde uma equipa de neurocirurgiões, chefiada por João Lobo Antunes, o haveria de operar no Hospital da CUF. Foi submetido a dez cirurgias e já não saiu do coma. Nos dias seguintes, Portugal parava comovido à hora do telejornal para acompanhar o estado de saúde de Joaquim Agostinho. Eu, no Tigusto, ouvia os comentários dos poucos clientes que lá estavam. Diziam “…coitado do rapaz, não se safa…”, e a minha atenção já não se desviava para o trânsito noturno. Ao décimo dia o telejornal abriu, no “Tigusto” e em todo o país, com a notícia da morte do Joaquim Agostinho. Por compaixão, por revolta e por me lembrar das férias na Areia Branca e da admiração que a “trupe da carica” tinha por aquele homem, fiquei com os olhos rasos de água e com um nó doloroso na garganta.

No funeral, em Silveira (Torres Vedras), viram-se dezenas de populares a chorar compulsivamente e com profundo sentimento, como se fossem familiares diretos de Agostinho. Estiveram presentes, para além dos oportuníssimos políticos de então, Eddy Merckx, entre outros “caricáveis”, e muitos milhares de portugueses anónimos que formaram uma massa humana gigantesca, seguramente das maiores que jamais se viu em exéquias de figuras públicas em Portugal. Mais, até, do que no funeral de Amália Rodrigues, quinze anos mais tarde. Amália que disse um dia: “Joaquim Agostinho tem a cara que eu gosto que as pessoas tenham!”.

Voltemos então atrás uma década, para onde estávamos, mais exatamente para as corridas de caricas no areal. Eu, por ser dos mais novos, nunca consegui dar nomes de ciclistas famosos às minhas caricas. Estavam todos tomados pelos miúdos maiores e mais batidos. Tinha então de escolher nomes de atletas menos conhecidos, o que era uma dificuldade porque eu não seguia a modalidade. Pedia ajuda ao meu pai, que também pouco sabia do assunto. Arranjávamos então um ou dois nomes de ciclistas de segundo plano e, para completarmos a meia dúzia que a equipa tinha de ter, inventávamos os restantes, e eu corria com ciclistas que não existiam. As seis caricas tinham de ser todas iguais, ou seja, das garrafas de uma mesma bebida, porque a respetiva marca dava nome à equipa. Eu corria frequentemente com a equipa SUMOL, menos solicitada, o que também não augurava nada de bom.  É que os miúdos que tinham a honra de escrever Eddy Merckx ou Joaquim Agostinho nos papelinhos apostos às suas caricas usavam as marcas que, na escala da virilidade, estavam no cume: SAGRES, SUPER BOCK e CARLSBERG. Houve alturas em que tive de escolher SUMOL DE ANANÁS (carica verde), porque até o SUMOL DE LARANJA (carica vermelha), o meu preferido, estava ocupado. Irritou-me muito porque sempre fui do Benfica. Além disso o vermelho é mais viril que o verde. Com tantas debilidades, é natural que nunca tenha ganhado grande coisa. Por equipas, nada. Na geral, um terceiro lugar, com um daqueles ciclistas que não era ninguém, foi o melhor que consegui.

Mas havia muitos outros divertimentos no areal. Construções na areia era um deles. Havia mesmo uma altura do mês em que o Diário de Notícias organizava um concurso de execução dessas estranhas esculturas, onde a minha irmã chegou a participar. Erguiam-se, num grande corrupio, dentro de um recinto delimitado por bandeirolas coloridas, grandes castelos, sereias, crocodilos e adamastores, pacientemente moldados na areia molhada pelas mãos de vários jovens em férias. No final havia classificações e prémios. Eu nunca participei, talvez por não ter a idade mínima. Ajudava apenas nos ensaios.

Quando havia vento, eu e o meu pai lançávamos ao ar, preso por um fio de nylon enrolado num carreto, um aviãozinho de plástico de corpo amarelo e asas vermelhas rotativas, à laia de papagaio de papel. Na extensão máxima da linha atingia altitudes de voo consideráveis, ombreando com gaivotas planantes, cheio de tremeliques nervosos como se tivesse vergonha das suas cores de pássaro exótico.

Quando os bandos de rapazes desmobilizavam, ou os jogos masculinos me desinteressavam, eu participava em alguns jogos de raparigas. O jogo do prego, na areia seca, era o meu preferido. Um grande prego de construção civil, em ferro maciço, com pelo menos 20 cm de comprimento, era lançado com uma mão, devendo descrever várias figuras acrobáticas pré-definidas, para, por fim, se cravar de bico no areal. Caso a cabeça do prego tocasse na areia, o ponto estava perdido.  

Jogos de bola e raquetes completavam a tarde dos grupos de crianças. 

Ao final do dia, já com o sol baixo e a humidade a ameaçar quebrar a temperatura amena, recolhíamos frequentemente em família à barraca da praia e jogávamos jogos de papel e caneta.

Havia momentos em que me perdia a observar os surfistas que chegavam à praia. Vinham em carrinhas VW “pão de forma” coloridas, de entre as quais as bicolores creme e rosa velho eram as minhas preferidas, por serem iguais ao meu transporte escolar dos tempos do infantário. Recordavam-me aquelas viagens divertidas pela cidade que fazíamos com o Chico, nosso querido motorista, que segura e metodicamente nos recolhia para irmos à escola, ou nos devolvia a casa. Os surfistas eram todos altos, esguios e louros. Tinham sempre o cabelo desalinhado e eram bastante jovens. Vinham de países distantes, muitas vezes da Alemanha, ou de latitudes ainda mais a norte. Para lhes identificar o país de origem eu começava por mirar a parte de trás da carrinha, que trazia sempre um autocolante elíptico com as iniciais nacionais convencionadas internacionalmente. Rapidamente aprendi as que eram menos evidentes, “CH” para Suíça, “NL” para Holanda, ou “D” para Alemanha. Depois, observava a forma como, calma e metodicamente, retiravam as pranchas e se equipavam com fatos de borracha. Finalmente via-os a dirigirem-se decididos para a praia sem falar com ninguém, a entrar na água e a dominar aquelas ondas enormes, como se o mar da Areia Branca fosse deles.

À noite, depois de um jantar cozinhado em fogareiro a gás e comido à luz ténue de um lampião sobre uma mesa periclitante de pés rebatíveis, dávamos sempre, bem agasalhados, um passeio pela vila. Duas ou três ruas percorridas, e lá se acabava a zona urbana. O passeio terminava no paredão da praia, que tinha o seu ponto alto na passagem pela discoteca, onde nós nunca entrávamos. Num desses anos, talvez o último em que lá passámos férias, o som da canção “Killing Me Softly With His Song” de Roberta Flack trespassava quase todas as noites a parede da boîte, ao mesmo tempo que luzes azuis e vermelhas intermitentes saíam pelas janelas altas e redondas. Ao som dolente e sincopado da voz metálica de Roberta, eu sonhava com o dia em que haveria de ter idade para entrar naquele lugar para dançar no meio dos surfistas jovens e louros. Ainda não sabia que todos os momentos são efémeros e que os surfistas envelhecem.

Ao longo desse mês havia sempre dois ou três dias em que passeávamos pelas redondezas. Íamos à praia de Porto Novo e à piscina do Vimeiro, onde eu aprendi a nadar com barbatanas. Na praia de Porto Novo era o hotel Golf Mar que dominava sobranceiramente o oceano. Dizia-se que Roger Moore lá passava breves temporadas de fuga à fama, provavelmente em contemplação profunda dos mares do Oeste. No Vimeiro havia um comboiozinho turístico onde nunca chegámos a andar, a que nós chamávamos “chora”, que era puxado por um trator agrícola. Quando serpenteava no meio de penhascos verdes e rochosos exibia graciosamente o contraste entre a delicadeza das suas carruagens e a rudeza da locomotiva. No Cabo Carvoeiro, em Peniche, passávamos dias em praias escavadas na rocha, de mar cristalino e sem ondas, onde o banho era quase impossível, de tão fria que a água estava. Dávamos longos passeios de colchão insuflável por sobre o espelho de água, que nos revelavam a beleza do fundo do mar, enquanto gritávamos triunfantes para sentir o eco das paredes rochosas da enseada.

Regressados à Areia Branca, a rotina daqueles dias recomeçava. Foi num desses dias que, ao voltar da praia num final de tarde, vimos uma caravana de rulotes e camionetas em direção a um terreno baldio contíguo ao parque de campismo. Começaram a manobrar no meio da poeira que tinham criado, numa clara intenção de estacionamento, parando por fim alinhados ao longo de um semicírculo. Pairava no ar um leve cheiro a animais. Era um circo!

No dia seguinte quis seguir atentamente o que iria acontecer. Vi pares de homens em tronco nu que, com grandes maços, martelavam alternadamente as estacas de fixação das espias.  À força de braços, apenas com o auxílio de guinchos e correntes, lá se ergueu, por fim, o chapiteau por entre gritos e nevoeiro. Era uma tenda de apenas um cume, feita de lonas azuis e cremes. Tinha as cores desbotadas e alguns rasgões, que faziam com que pedaços do oleado nos acenassem com o vento. Logo na primeira noite testaram a eletricidade, acendendo gambiarras de lâmpadas fracas em torno da rulote que serviria de bilheteira. No dia seguinte uma carrinha Citroën 2CV, com um megafone no tejadilho, saiu em direção à vila anunciando o espetáculo com o som roufenho de uma voz teatral. Desde o primeiro instante que eu alimentava a secreta esperança de que os meus pais decidissem levar-nos àquele circo. Não precisámos sequer de insistir. Estava decidido, íamos ao circo junto à praia!

No dia agendado para o espetáculo as horas pareciam não passar. É certo que já não era a primeira vez que eu ia ao circo. Estava habituado aos grandes Mariano e Royal, que sempre apareciam nas cidades em tempos de feira ou no Natal. Mas na praia, junto ao parque de campismo, com o marulhar das ondas e o cheiro a maresia, o circo iria ter uma emoção especial. Não fomos com muita antecedência por não se prever grande enchente. Pouco menos de dez minutos antes da hora prevista para o início do espetáculo comprámos os bilhetes sob a luz ténue da rulote. Entrámos no chapiteau e subimos para o nosso lugar na bancada. Não muito distante de nós estava já instalada uma família de três pessoas. A luz era muito débil e cheirava a pó e a mofo. À hora prevista para o começo continuávamos apenas nós e a outra família nas bancadas. Anunciaram aos microfones que esperariam mais quinze minutos para dar tempo a que o público afluísse. Meia hora depois a voz do apresentador voltou a ouvir-se nos altifalantes. Que pediam muito desculpa pois não poderiam realizar o espetáculo por falta de público, que passássemos nas bilheteiras para a devolução do valor dos bilhetes. Os meus pais decidiram não reclamar o dinheiro.

No dia seguinte desmontaram tudo, carregaram camionetas e rulotes e zarparam, deixando para trás uma nuvem de poeira.